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Em minha cabeça eu já havia saído da TV, diz Regina Volpato do "Mullheres"

Nilson Xavier

29/10/2018 23h21

Regina Volpato (foto: reprodução)

Bati um papo com a apresentadora Regina Volpato, desde janeiro à frente do programa "Mulheres", o rosto que representa a nova fase do antigo programa da TV Gazeta. Uma fase "mais arejada", nas palavras dela. Afastada há 5 anos da televisão, Regina estava direcionando a carreira para o seu canal no YouTube e para a literatura (ela lançou, em 2017, o livro "Mudar Faz Bem"). Regina estava pronta para sair do país quando veio, de repente, o convite para comandar o "Mulheres". E tudo mudou. Ela falou do inesperado de substituir Cátia Fonseca (a apresentadora anterior), das primeiras dificuldades, e das mudanças no programa e em seu público. O diretor do "Mulheres", Ocimar de Castro, estava com a gente.

A substituição

Regina: Eu ia sair do país. Eu estava desde 2013 sem fazer televisão. Em minha cabeça, eu já havia saído da TV. Estava feliz com meu livro e fazendo o canal no Youtube. Eu pensei 'para fazer o canal e o livro, eu posso estar em qualquer lugar, não preciso estar aqui'. Minha ideia era ir para Portugal em maio [deste ano], ficar uns 3 meses e ver se voltava. Era uma possibilidade, porque a minha carreira estava sendo direcionada para a escrita e o canal. Aí veio o convite para cobrir as férias da Cátia Fonseca, em janeiro. E tudo foi acontecendo, fui me adaptando.

Ninguém imaginava que a Cátia ia sair. Era uma possibilidade remota ficar no lugar dela ou de outra apresentadora, porque a Gazeta é uma emissora muito organizadinha. Então eu vim para fazer um mês. Aí, a Cátia anunciou a saída dela no final de dezembro e eu recebi um telefonema da emissora dizendo 'nada muda entre nós, você vai ficar um mês'. Fiz esse mês e gostei.

Ocimar: Regina assinou para cobrir as férias. Veio a notícia da saída da Cátia e eu estava viajando. Liguei para ela e falei: segunda-feira a gente se encontra e você faz o programa. Vamos ver o que vai dar! No primeiro programa que Regina fez ao vivo, havia 4 câmeras. Eu dizia 'vai para a câmera 1', ela ia para o outro lado [risos]. No segundo, terceiro dia, ela falava para mim 'calma que eu tô me acostumando!'. Não teve ensaio nem nada. Ela foi jogada aos leões!

Regina Volpato e o diretor Ocimar de Castro (foto: Luís França)

Regina: É desafiador ficar quatro horas ao vivo fazendo o programa nessa época de patrulha, em que as pessoas estão o tempo todo criticando tudo. Preciso ter informação, jogo de cintura e estômago. Mas também é muito divertido. Vi que a equipe era legal e que o trabalho era relevante. Fazer um trabalho relevante é muito importante. Não ser mais uma. A minha vaidade está quando falam 'você é diferente por isso e por aquilo'. Um trabalho que seja autêntico, que faça diferença para as pessoas, que provoque o mínimo de reflexão. Então eu fui gostando e isso começou a fazer sentido em minha cabeça. Nesse momento que estamos vivendo, na posição que a mulher está se colocando, acho que tenho alguma coisa a acrescentar nessa história. A minha presença pode ser interessante.

Nesse período eleitoral, você falou de política em algum momento? Você se posicionou politicamente?

Regina: Não me posicionei. Como jornalista, não acho legal. Não gosto de jornalista que se mistura com a notícia. Sou da velha guarda. No máximo falo de meu time de futebol porque não trabalho com esporte. Eu procuro ser muito cuidadosa com isso, inclusive em postagens nas minhas redes sociais. Claro que um olhar mais atento, mais cuidadoso, vai saber qual apito eu toco! Mas eu não me manifestei abrindo o meu voto para nenhum candidato. Inclusive é uma recomendação da emissora aos jornalistas para que se mantenha discrição com relação a isso. Mesmo estando no entretenimento, eu me entendo jornalista. Porém, como a eleição é o assunto do momento, eu faço o edital de abertura dos programas falando de política em várias situações: falei de tolerância, de saber respeitar, de fake news, da dificuldade que estamos tendo em conversar com quem não pensa igual. Falei de política mas não me posicionei politicamente. Mas dá para perceber qual é a minha, né?

Foi difícil substituir a Cátia em um programa que estava indo bem? Você sentiu medo?

Regina: Não senti medo. Não tenho medo da comparação. Eu tenho um estilo e modéstia à parte eu gosto de meu estilo. Nadamos em raias diferentes. Meu estilo é muito diferente do estilo de todas as pessoas com quem já trabalhei: da Daniela Albuquerque, que fazia o programa comigo na RedeTV, da Cristina Rocha, que me substituiu no "Casos de Família", e da Cátia Fonseca, que eu substituí no "Mulheres". Todas têm o seu mérito, a sua dose de empatia e de rejeição e eu não sou melhor nem pior que ninguém. Então eu não tenho medo da comparação. Nem quando escrevi meu livro, que para mim foi um desafio. Tinha medo da avaliação de meu trabalho, de acharem o livro ruim. Mas não da comparação. Ela não me acanha. E porque acho que tem espaço para todo mundo, para todos os estilos. Fiquei com medo do cansaço físico [são 4 horas diárias de um programa ao vivo]. Não fiquei com medo de não ter repertório porque os assuntos são muito variados. Acho que a idade traz essa segurança. Se eu não fizer bem hoje, eu me preparo e amanhã faço um pouco melhor até chegar a hora em que vou fazer bem. Quando comecei aqui, eu não fazia bem o merchan. Fui aprendendo e desenvolvendo o meu estilo. Porque não faço merchan igual a nenhuma das apresentadoras daqui e nem de nenhuma outra emissora.

Foto: Luís França

Ambiente mais arejado

Regina: Esse ano de 2018 foi um ano de muito trabalho e de renovação para o programa. Para mim, ficar à frente de um programa que está há 38 anos no ar, no mesmo horário, mesma emissora, com essa tradição, é uma responsabilidade muito grande. Mas acho que era preciso "tirar a poeira". Tava precisando de uma arejada. Mas sem deixar de lado esses 38 anos. É um mérito da emissora bancar um programa de quatro horas diárias durante tanto tempo.

Foi uma força-tarefa da emissora para que o programa fosse mudado. E o grande golpe de sorte para mim foi que eu encontrei uma equipe azeitada, babando por trazer novidades, por poder trabalhar de uma maneira mais criativa, por poder ousar, por correr o risco de errar. A gente não tem medo de errar, porque se não der certo, não deu. Mas vamos tentar! Eu fui apenas a cerejinha do bolo, porque tudo já estava harmonicamente estruturado, todo mundo trabalhando. Então a única coisa que eu tive que fazer foi a minha parte, sem atrapalhar. Só precisei chegar e fazer o meu direitinho porque todo mundo já estava fazendo o seu. E assim tem sido.

O que mudou?

Regina: O público mudou. Não é mais apenas a "senhorinha", a dona de casa ou o público sênior. Tenho o cuidado de não subestimar meu público. A culinária, por exemplo, funciona de um jeito que ninguém pensa em mudar. Há um ritual. O Instagram do programa só tinha fotos. Decidimos colocar as receitas no Instagram. Algo simples que fez a diferença. A um custo zero. Deu uma modernizada, o público adorou. Até fazer os merchans de um jeito diferente foi um desafio que a gente se impôs"

Regina com Tutu (foto: Luís França), Tia e Fefito (foto: divulgação)

O diretor Ocimar de Castro considera Regina Volpato a nova "Rainha do Merchan": com ela, o merchandising no "Mulheres" subiu 40%. Uma média diária de 16 ações. E o merchan saiu da bancada.

Ocimar: A gente mudou e já estão copiando! O merchan que as pessoas conhecem é no balcão, na bancada. Por que não fazemos diferente?

Regina: A princípio, os clientes [que pagam para ter o produto anunciado no programa] tiveram resistência. Um topou e fizemos sentados, no sofá. Outro gostou e pediu para fazer também.

Ocimar: Temos toda a liberdade da direção da emissora para criar. Também já teve um cliente que fez um merchan por meio de um link de fora, lá da Avenida Paulista, conversando com uma pessoa na rua.

Regina: Saiu do estúdio, deu uma arejada. Por isso eu falo 'tirar a poeira', na maneira nova de tratar os assuntos. Outro exemplo de mudança foi o anúncio de um aplicativo. Um cliente sem o produto físico. O produto é o aplicativo e você anuncia explicando e pedindo para o telespectador baixar no celular. Outro exemplo: pauta de moda. A pessoa fala 'isso fica bem porque ela é jovenzinha, porque isso alonga, isso emagrece' e vem a minha observação 'se você acha que você tem que ter o corpo mais alongado, né! porque se você acha que está ótima do jeito que está, tudo bem'. Aqui é tudo muito fluido, muito orgânico. Mas quem está em casa capta. Mesmo em meus figurinos. Alguém falou 'ah, mas você pode'. Não! Eu vou poder sempre, enquanto eu achar que estou me sentindo bem, que não estou inadequada. No programa de aniversário, usei um macacão com um decote enorme. Eu, uma mulher de 50 anos! Ninguém achou estranho, porque estava harmônico, de acordo com esse ambiente 'mais arejado'.

Fotos: Divulgação/TV Gazeta.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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