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"Segundo Sol" vai chegando ao fim com soluções e desfechos preguiçosos

Nilson Xavier

30/10/2018 22h28

Deborah Secco e Vladimir Brichta (foto: reprodução)

João Emanuel Carneiro, de "Segundo Sol", nem parece o mesmo autor de "A Favorita", "Avenida Brasil" e "A Regra do Jogo". As duas primeiras conquistaram o público pelas tramas bem amarradas e reviravoltas surpreendentes (entre outros fatores).

"A Regra do Jogo" também teve tudo isso, mas ainda alguns problemas e menos empatia do "grande público". Contudo, não há como negar que tratava-se de uma novela ousada, que saiu do conforto e do lugar comum. Ainda: seu último mês estava com o Ibope alto (para aquele momento) e a trama virada do avesso – o que não é exatamente o que se vê nessas últimas semanas de "Segundo Sol".

A atual trama das nove (que mais parece das sete) vai chegando ao fim sem ritmo de final de novela. Parece que ainda estamos no meio da história. Os desfechos mais parecem improvisações. Deixam a desejar, considerando o que se espera da assinatura João Emanuel Carneiro. Exemplos recentes: a proposta de Maura (Nanda Costa) de trisal (casal de três) para Selma (Carol Fazu) e Ionan (Armando Bababioff) – eles aceitaram rapidinho; a morte do pai-de-santo (João Acaiabe desperdiçado) para que Groa (André Dias) assuma o terreiro (que trama aleatória!); Laureta (Adriana Esteves) atira em Du Love (Ciro Sales) em um estacionamento de shopping – o encontro não seria num lugar movimentado? E como a esperta Laureta mata o cara num local como esse e na frente de uma testemunha, Tomé (Pablo Morais)?

Renata Sorrah e Adriana Esteves (foto: reprodução)

E a doença de Rochelle (Giovanna Lancellotti) serviu para? A regeneração da vilãzinha somente. Assim como o interminável assalto à mansão da família Athayde: tão simplesmente para a regeneração de Severo (Odilon Wagner), uma suposta união da Família Addams e para preencher uma semana de novela – o vulgo "encher linguiça". Sem contar os recursos narrativos já fartamente usados pelo autor em novelas anteriores (tramas requentadas).

Soluções fáceis e preguiçosas assim fizeram a crítica cair matando em "O Outro Lado do Paraíso": doenças para punir vilões e regenerações de caráter ou mudanças de personalidade repentinas e sem maiores explicações (ou, ao menos, sem um desenvolvimento coerente). A diferença é que o público havia comprado a trama maluca de Walcyr Carrasco e o Ibope estava nas alturas. Enquanto "Segundo Sol" – usando um jargão futebolístico – segue apenas cumprindo tabela.

Um aparte para a participação de Renata Sorrah como a mãe lunática de Laureta, uma personagem pitoresca que trouxe algum frescor para a reta final da novela.

Leia também: "Mãe doida de Laureta quebra a monotonia de Segundo Sol na reta final".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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