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3ª vez que Aguinaldo promete uma boa personagem a Lília Cabral e não cumpre

Nilson Xavier

22/01/2019 10h18

Valentina Marsala em "O Sétimo Guardião" (foto reprodução)

A novela "Fina Estampa", de Aguinaldo Silva, estreou em 2011 com um grande chamariz: a caricata personagem Pereirão (ou Griselda), vivida por Lília Cabral. Apesar de todo maniqueísmo, Pereirão era, a princípio, um tipo muito interessante. Foi em torno da personagem que "Fina Estampa" se manteve durante algum tempo. Porém, no meio do caminho, Pereirão se transformou, ficou rica, ganhou um banho de loja e boas maneiras e passou a ser apenas Griselda.

Foi quando a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o mordomo Crô (Marcelo Serrado) passaram por cima de Griselda como um trator, roubando a cena e o protagonismo de "Fina Estampa". Com a transformação (não poderia ser diferente, esse era o mote central da novela), Pereirão perdeu o que tinha de melhor, inclusive o apelo e carisma. Até Tia Íris (Eva Wilma), Pereirinha (José Mayer) e Baltazar (Alexandre Nero) passaram a ter mais destaque que ela.

Em 2014, Lília Cabral voltou à cena com uma grande promessa de Aguinaldo Silva: Maria Marta, a personalística esposa do Comendador José Alfredo (Alexandre Nero), o protagonista da novela "Império". Com traços de vilã, Maria Marta era menos chorosa que Griselda. Posuda, arrogante, soberba e de temperamento forte, MM só não era a grande vilã da novela porque havia outros nessa função: Cora e Fabrício Melgaço.

Maria Marta em "Império" (reprodução) | Griselda em "Fina Estampa" (Acervo/ TV Globo)

Maria Marta não entrou para a galeria dos tipos inesquecíveis da TV. Dessa novela, só o Comendador e (sendo bem bonzinho) Cora. MM era apenas uma mulher classuda e esnobe, que falava e fazia o que bem queria, capaz de tudo para defender os seus interesses. Mas sem nenhum grande diferencial. Não vou dizer que passou batida, porque Lília Cabral é uma atriz que impõe sua marca até nos personagens mais desinteressantes.

Agora Lília é Valentina Marsala, ou Marlene, vendida como a grande vilã de "O Sétimo Guardião". Ao menos foi isso o que Aguinaldo Silva prometeu à atriz. E Lília, na divulgação da novela, passou adiante essa ideia. Porém, passados mais de dois meses, Valentina/Marlene ainda não disse a que veio. A personagem tem um quê de Maria Marta de "Império", é arrogante, esnobe e cínica. Porém, mais falastrona, cheia de frases de efeito e com a cara sempre amarrada.

O que era para ser "a grande vilã" da carreira da atriz (como ela chegou a afirmar), está se esvaziando na personagem chata. Era nítida a intenção de Aguinaldo em emular vilãs de sucesso de suas novelas, como Altiva (Eva Wilma), Maria Regina (Letícia Spiller), Adma (Cássia Kiss) e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah). Mas Valentina apenas parece uma mistura de Tereza Cristina e Maria Marta. Nem para "vilã-meme" está funcionando. Falta nela o que faz uma megera ser adorada pelo público: carisma.

Sheila em "História de Amor" | Marta em "Páginas da Vida" (foto: Acervo/ TV Globo)

Lília Cabral é uma grande atriz, de fartos recursos. Veja Silvana, sua personagem anterior, da novela "A Força do Querer", de Glória Perez: uma coadjuvante mais sutil que Pereirão, Maria Marta e Valentina, porém, mais rica, justamente por ser mais humana. A caricatura vem bem quando o texto ajuda, vide Nazaré Tedesco. Embora toda a tentativa de fazer Valentina emplacar, a personagem só soa forçada e chata, a todo momento humilhando subalternos e se dirigindo aos outros com uma frase desagradável, por mais espirituosa que seja.

O texto pouco tem ajudado. A bem da verdade, Valentina é a síntese de "O Sétimo Guardião". A cena do restaurante, exibida nessa segunda-feira (21/01), dá o tom da novela: um samba maluco sem sentido. Valentina faz toda uma cena com falsa emoção, afirmando que voltou a Serro Azul por causa dos moradores, e, em seguida, humilha o garçom. Esperamos que os desdobramentos dessa sequência possam ao menos explicá-la.

Aliás, o prato no vestido de Valentina foi obra de Mirtes (Elizabeth Savala). Não seria ela a verdadeira malvada da novela?

No mais, só Manoel Carlos presenteou Lília Cabral com vilãs ricas e carismáticas: Sheila de "História de Amor" (1995-1996) e Marta de "Páginas de Vida" (2006), este, um dos melhores trabalhos da carreira de Lília.

Leia também: "A vilã que Lília Cabral tanto prometeu ainda não aconteceu".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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