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Elenco de “Máscaras” está correto: a novela melhorou significativamente

Nilson Xavier

03/07/2012 06h00

Quando Máscaras estreou, escrevi uma crítica sobre a novela após assistir os seus cinco primeiros capítulos – leia AQUI.

Já no primeiro capítulo, percebi o desacerto entre autores e a direção da trama. Como relato no texto supracitado, era "como se os autores estivessem querendo passar uma mensagem e os diretores não estivessem conseguindo realiza-la à altura".

A crise instaurou-se em Máscaras e o diretor foi trocado. Mudanças de horário prejudicaram ainda mais a trama. Lauro César Muniz, o autor, prometeu mudar sua novela para conquistar novamente o público.

Nesta segunda-feira (02/07), foi divulgada na internet uma "carta de amor à Máscaras", assinada por 28 atores do elenco. Nela, os atores reclamavam da mídia, que divulga apenas os problemas da novela (como a baixa audiência) e não noticia a qualidade artística da obra, o trabalho e a garra dos atores e da equipe de roteiristas comandada por Lauro Cesar Muniz.

Leia AQUI o texto do jornalista Mauricio Stycer sobre o assunto, com a carta transcrita na íntegra.

A carta afirma que Máscaras inova e "quebra com os clichês das novelas convencionais" e isto não é divulgado pela mídia, e que "não é justo que essa inovação, essa ousadia, não fique registrada". Analisemos cada um dos exemplos desta inovação citados na carta (item 3 da carta):

1. Apresenta um galã dúbio, que tanto pode ser bom ou mau caráter, sem heroísmo romântico;

Lauro César Muniz já apresentara galãs dúbios desde Escalada (na década de 1970) e Roda de Fogo (na década de 1980). Cidadão Brasileiro e Poder Paralelo, suas duas últimas novelas (na Record) também tinham. Outros autores também criaram heróis dúbios, como Dias Gomes, Bráulio Pedroso e Janete Clair.

2. Vilões que se apaixonam, cujas ações são misturadas com humor e atitudes paradoxais, sem maniqueísmos;

Várias novelas, há muito tempo, têm vilões com essas características. A própria Carminha de Avenida Brasil, por exemplo, ora é perversa, ora demonstra amor pelo filho, ora é engraçada, etc.

3. Um casal que tem um filho imaginário, uma metáfora, algo inexistente em novelas;

Realmente inédito!

4. Personagens com tesão explicita e realizada, fugindo aos padrões antigos de comportamento;

Um vídeo com uma cena entre Flavia Monteiro e Nicola Siri até virou piada na internet recentemente, o "Você quer Me Ter?". Acho que representa bem esse item. Assista AQUI (link do Youtube).

5. Um retrato político do capitalismo selvagem internacional, ao mostrar uma organização com interesses em propriedades de outra nação, como acontece com o petróleo do Oriente Médio, ou a loucura dos investidores da bolsa americana, em sua ambição desenfreada, levando o mundo a uma crise imensa.

Lauro já tratou dessas "organizações internacionais" em novelas como O Salvador da Pátria e Poder Paralelo.

Ou seja, não vejo nada de muito "inovador" no que foi citado, pois existem vários exemplos de novelas – dentro e fora da própria Record – que abandonaram o maniqueísmo folhetinesco e apostaram em tramas mais naturalistas.

Assisti ao capítulo de Máscaras exibido nesta segunda-feira. Por este capítulo isolado, e pelo que afirmei acima, também não vi muita inovação na trama. Todavia, é notório que Máscaras melhorou muito. Realmente é outra novela. A direção (agora a cargo de Edgard Miranda) está segura, acompanhada de trilha sonora apropriada e uma iluminação eficiente. Diferente do início, em que a direção, trilha e fotografia eram absolutamente equivocadas.

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A direção de atores também é bem superior. O capítulo apresentou uma cena ótima entre Míriam Freeland e Petrônio Gontijo. E Fernando Pavão, que vive o protagonista, está bem mais seguro e convincente em seu papel. A trama me pareceu mais clara, sem aquela nuvem de dúvidas inicial que a deixava confusa.

Enfim, vendo apenas um capítulo já dá para sentir que a novela melhorou. Mas, seria necessário, ao menos, uma semana inteira para sentir algo realmente inovador na estrutura da trama. Prometo que voltarei ao assunto.

Em tempo, no início de junho escrevi um texto sobre o profissionalismo da equipe de Máscaras, elogiando o autor em sua tentativa de salvar a novela. Leia AQUI.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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