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Apesar de parecer datada, a nova “Guerra dos Sexos” promete divertir

Nilson Xavier

01/10/2012 21h15

Não faltaram referências à década de 1980 na estreia de Guerra dos Sexos, a nova novela das sete da Globo (nesta segunda-feira, 01/10). Como numa fala de Juliana (Mariana Ximenes) "que coisa mais anos 80!", a trilha sonora é saudosista – o tema de abertura é o mesmo, com novo arranjo, assim como as músicas "Viva" e "Anjo", hits da novela original de 1983, escrita por Silvio de Abreu com a colaboração de Carlos Lombardi. E também atores falando diretamente para a câmera, dialogando com o público, artifício que a novela usou e abusou na época.

Em 1983, as primeiras chamadas de Guerra dos Sexos já despertavam atenção pelo título da novela. A palavra "sexo" ainda era tratada com certo tabu na televisão. Mas a trama não passava de uma comédia rasgada, e das boas. Guerra dos Sexos ficou marcada por levar à TV um estilo inovador de humor, nunca visto antes, e que se perpetuou a partir de então, repetido em outras obras de Silvio e Lombardi (Vereda Tropical, Cambalacho, Sassaricando, Bebê a Bordo). Um humor tão inovador que inspirou Armação Ilimitada e o TV Pirata.

Vinte e nove anos depois, este humor televisivo não é mais novidade. Assim como soa velho hoje em dia palavras como "machismo", "porco chauvinista", "feminista". É claro que os machões ainda existem e que as mulheres continuam ganhando menos que os homens no mercado de trabalho. Mas este era um tema muito em voga no longínquo ano de 1983. Entrou na TV com a série Malu Mulher e teve seu ápice como comédia, em Guerra dos Sexos. Hoje em dia, é tão antiquado ser machista que pontuar uma trama na luta machismo x feminismo parece um retrocesso.

Mas, Silvio de Abreu já afirmou que sua novela não é nenhum tratado de antropologia, apenas entretenimento. Como já era em 1983. Silvio também alardeou que este não é um remake de sua novela… Bem, não foi a impressão que ficou depois deste primeiro capítulo. Revisto o capítulo 1 da Guerra de 1983, a maioria das cenas apresentadas na estreia desta nova Guerra é ipsis litteris a sua versão original. Salvo algumas poucas exceções, são as mesmas situações, as mesmas falas e até enquadramentos.

Isso é ruim? Não acho. Pelo contrário: em se tratando de remakes, sou um entusiasta do ctrl-c ctrl-v na TV, pelo puro prazer da comparação. Entretanto, sabemos de antemão que um remake não é feito para os saudosistas, mas para a nova geração, que não viu o original. Então, qual o problema em ser remake ou não? Em ser uma guerra ultrapassada ou não? Quando o objetivo é apenas divertir…

Novela é fantasia. Novela das sete é comédia romântica. Quer mais fantasia que três empregadas que do nada colocam um vídeo na Internet e se tornam estrelas da música da noite para o dia? Tente você fazer um vídeo na Internet com a intenção de ser sucesso!

Aliás, falando em Cheias de Charme, teve transmedia já no primeiro capítulo de Guerra dos Sexos: na página real da Globo.com havia o tal anúncio da morte de Charlô e Otávio (Fernanda Montengro e Paulo Autran), citada na novela (foto ao lado).

O primeiro capítulo não chamou a atenção da audiência, se compararmos com tramas anteriores: a prévia no Ibope foi de 27 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo). Cheias de Charme e Aquele Beijo – duas novelas tão díspares -, cravaram 35 pontos na estreia. Isso comprova que números do primeiro capítulo não dizem nada sobre o que vai acontecer com a novela. Que venha a Guerra!

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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