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“Amor À Vida” é uma novela de piadas velhas e infantis

Nilson Xavier

22/09/2013 12h10

Félix (Mateus Solano) chama César (Antônio Fagundes) de "Papi soberano" (Foto: Divulgação/TV Globo)

No capítulo deste sábado (21/09) de "Amor À Vida" não aconteceu absolutamente nada de relevante para a trama da novela, a não ser o fato de Silvia (Carol Castro) ter descoberto um câncer na mama. E a sequência foi aquele melodrama, potencializado por uma trilha sonora triste e muitas, muitas lágrimas de desespero.

Para uma novela que trata da luta pela vida através de uma série de doenças – daí o seu título -, o dramalhão exibido até que é bastante cabível em sua proposta. O que não cabe para um folhetim do horário das nove é a comicidade quase infantil com a qual Walcyr Carrasco tempera sua trama "medicodramática".

Ocupando a maior parte de um bloco inteiro, esteve a periguete Valdirene (Tatá Werneck) a disputar uma batata frita com sua mãezoca Márcia (Elizabeth Savalla). Pareceu roteiro de desenho animado. Aliás, a dupla, em que uma se acha dotada de uma "inteligência pura", faz lembrar os personagens "Pinky e Cérebro", na ânsia em dominar o mundo – arrumar um marido rico, no caso. Alguém no Twitter comparou a cena com um esquete do "Chaves" do SBT- perfeito!

A total falta de sutileza na boca dos personagens de "Amor À Vida" também remete ao universo infantil. Criança diz cada uma!, já ensinava Pedro Bloch. Mas a novela de Carrasco é popular e tem dado boa audiência – superior à antecessora, "Salve Jorge", mas ainda inferior às duas anteriores, "Avenida Brasil" e "Fina Estampa".

Mas audiência sempre será um parâmetro perigoso quando se deseja medir qualquer coisa no horário nobre brasileiro – principalmente se considerarmos que, há pelo menos 43 anos, a novela das oito/nove da Globo é o produto de maior audiência da TV aberta, não importa o que a emissora leve ao ar.

Piada velha, ou requentada, também induz ao riso?
Mais uma vez Félix (Mateus Solano) chamou César (Antônio Fagundes) de 'Papi soberano', no que seu pai retrucou que detesta ser chamado daquele jeito. Pela repetição da situação, lembra um antigo esquete do humorístico "Zorra Total", em que o personagem de Jorge Dória, um pai homofóbico, ficava desesperado quando seu filho gay, vivido por Lúcio Mauro Filho, o chamava de 'Papi'. O "Zorra Total" também é popular e dá audiência. Não fosse assim, não estaria tanto tempo na grade da Globo.

Engraçado mesmo é que, aos sábados, o "Zorra" parece continuação da novela das nove, já que é exibido na sequência.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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