Topo

"Meu Pedacinho de Chão" pode fazer a Globo retomar sua programação infantil

Nilson Xavier

13/04/2014 13h13

Geytsa Garcia (Pituca) e Tomás Sampaio (Serelepe) em

Geytsa Garcia (Pituca) e Tomás Sampaio (Serelepe) em "Meu Pedacinho de Chão" (Foto: Divulgação/TV Globo)

ou Pequena História da Telenovela Infantil Brasileira

Contrariando o que se alardeou há dois anos, quando se discutia o sucesso da novela "Carrossel" no SBT, a Globo investe em programação infantil sim. É só voltar os olhos para a novela "Meu Pedacinho de Chão", a estreia dessa semana. Por conta da inesperada repercussão de "Carrossel" (entre 2012 e 2013), chegou a ser dito, na época, que a Globo não se interessava mais por esse filão e que deixara a programação infantil para os canais pagos, já que havia tirado a "TV Globinho" de sua grade diária e estreado o canal Gloob na TV por assinatura. O SBT, um canal com tradição em programação para crianças, segue firme e forte com a substituta de "Carrossel": o remake de "Chiquititas", há quase um ano ar. Teledramaturgia infantil existe desde a inauguração da TV no Brasil, lá na década de 1950, seja na forma de teleteatros (como o "Teatrinho Trol") ou seriados voltados para o universo infantil, como "Falcão Negro", "Capitão 7" e o "Sítio do Picapau Amarelo" (de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky).

pequenaorfaA primeira novela diária infantil de grande repercussão foi "A Pequena Órfã" (foto ao lado), de Teixeira Filho, exibida na TV Excelsior entre 1968 e 1969, com a então menina Patrícia Aires como protagonista. O sucesso foi tanto que até as outras emissoras passaram a investir no gênero. Foi quando houve um boom de novelas infantis na TV brasileira, entre o final da década de 1960 e início da década de 1970: "Sozinho no Mundo" (Tupi, 1968, com Guto Franco), "Ricardinho, Sou Criança, Quero Viver" (Bandeirantes, 1968, com Dimitri Orico), "O Doce Mundo de Guida" (Tupi, 1969, com Maria Guida), "Tilim" (Record, 1970-1971, com Júlio César Cruz), "O Meu Pé de Laranja Lima" (Tupi, 1970-1971, com Haroldo Botta), "Pingo de Gente" (Record, 1971, com Elisa D´Agostino), "O Príncipe e o Mendigo" (Record, 1972, com Kadu Moliterno e Nádia Lippi).

A Tupi continuou investindo em novelas infantis nos anos 1970: "O Velho, o Menino e o Burro" (1975-1976, com Douglas Mazola), "Papai Coração" (1976, com a então menina Narjara Turetta) e "Cinderela 77" (1977, com Ronnie Von e Vanusa). A Band também explorou o apelo infantil em novelas como "Meu Pé de Laranja Lima" (duas novas versões, em 1980 e 1998), "Braço de Ferro" (1983) e "Floribella" (2005-2006). No SBT, a primeira versão de "Chiquititas", exibida entre 1997 e 2001, foi um sucesso. Isso sem patotafalar nas novelas infantis importadas (como "Chispita", "Vovô e Eu", a "Carrossel" original, "Carinha de Anjo", "Alegrifes e Rabujos" e outras).

Com o fechamento da TV Excelsior, a Globo reprisou "A Pequena Órfã", em 1971, às 18 horas, inaugurando esse horário com novelas. Na sequência, lançou sua primeira produção própria para as seis, "Meu Pedacinho de Chão", de Benedito Ruy Barbosa (uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo), aproveitando no elenco a garota Patrícia Aires, a pequena órfã (na verdade, ela era filha do ator Percy Aires). Patrícia foi a Pituca da "Meu Pedacinho" original, e o garoto Aires Pinto era o Serelepe. A Globo continuou investindo em produção infantil para as seis horas naquele início da década de 1970: as novelas "Bicho do Mato" (1972) e "A Patota" (1972-1973, de Maria Clara Machado), e o seriado "Shazan, Xerife e Companhia" (reprisado às seis da tarde entre 1973 e 1974, com Paulo José e Flávio Migliaccio). Só a partir de 1975 que emissora dedicou o horário das seis para novelas adultas, com adaptações de romances clássicos da literatura brasileira.

mundodaluaA produção de dramaturgia infantil na Globo continuou com o "Sítio do Picapau Amarelo" – exibido entre 1977 e 1986, antes da novela das seis. Nesta versão do "Sítio", Benedito Ruy Barbosa foi o roteirista responsável pelas histórias dos dois primeiros anos. Novelas com forte apelo infantil fizeram sucesso na emissora durante a década de 1980, como as de Ivani Ribeiro: "Amor com Amor se Paga" (1984, a novela do Nonô Correia, vivido por Ary Fontoura) e "A Gata Comeu" (1985). Durante a década de 1990, foram ao ar as séries "Caça Talentos" e "Flora Encantada", estreladas por Angélica, dentro de seu programa matinal "Angel Mix". Na sequência, veio "Bambuluá", entre 2000 e 2001, e a nova versão do "Sítio do Picapau Amarelo", exibida entre 2001 a 2007.

Teledramaturgia infantil de qualidade sempre existiu na TV brasileira. A TV Cultura que o diga – responsável pelos premiados "Mundo da Lua" (foto acima) e "Castelo Rá-Tim-Bum". O sucesso de "Carrossel" no SBT, entre 2012 e 2013, veio provar que as crianças estão órfãs de programas para elas no horário nobre da TV aberta. "Meu Pedacinho de Chão" pode ser um passo importante para a retomada da Globo neste segmento.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier