Nova produção da Record, "Plano Alto" promete, apesar do horário tardio
A premissa de "Plano Alto" – a minissérie da Record que estreou nesta terça, 30/09 – é das mais interessantes. Três gerações de uma família ligada à Política: o avô lutou contra a Ditadura Militar, nos Anos de Chumbo, o pai foi cara pintada, no início da década de 1990, e o neto/filho participa das manifestações populares de 2013. Cai bem para um ano eleitoral como este. A produção estreia às vésperas do primeiro turno. Com apenas 12 capítulos (exibidos em três semanas), terminará antes do segundo turno.
Guido Flores (Gracindo Jr.) tornou-se governador. O filho, João Titino (Milhem Cortaz), com quem ele tem uma relação meramente política, é deputado federal. E Rico (Bernardo Falcone), criado longe do pai e do avô, é um estudante que vai se envolver com "black blocs". Interessante notar que o autor, o experiente Marcílio Moraes, criou um distanciamento entre os personagens, apesar dos laços parentescos entre eles. O intuito é justamente dar ênfase ao jogo do poder político sobrepondo relações afetivas e familiares.
A minissérie pretende explorar uma faceta interessante da Política: a de que a dança do poder depende muito de qual lado se está. Contestadores na juventude – Guido como guerrilheiro e Titino como cara pintada –, os dois acabaram se rendendo ao sistema para chegar ao poder. O black bloc Rico terá o mesmo destino? Marcílio Moraes afirmou que, ao final da história, deixou uma brecha para que "Plano Alto" tivesse uma continuação (uma próxima temporada).
O autor ainda salientou que sua obra é totalmente apartidária e que não faz apologia a nenhum candidato neste ano de eleições. Nenhum partido real é mencionado. E a Brasília apresentada é cenográfica: a produção não conseguiu permissão para gravar em prédios do Governo – a não ser as tomadas da cidade, claro. O cara pintada Titino participou de manifestações pelo impeachment "de um certo presidente" no início dos anos 1990 – o nome de Fernando Collor não é citado na minissérie, apesar da referência óbvia.
Além do roteiro, que promete, "Plano Alto" tem outras qualidades que ficaram visíveis neste primeiro capítulo. O elenco é excelente: também Jussara Freire, Paulo Gorgulho, Esther Góes, Mariah Rocha, Daniela Galli, André Mattos, Floriano Peixoto, Giuseppe Oristânio, Flávia Monteiro, Bia Montez, Bemvindo Siqueira e outros. A direção de Ivan Zettel mostrou um ótimo serviço nessa estreia: edição ágil e bem cortada, sonorização de qualidade, câmeras seguras, elenco bem dirigido.
Por enquanto, apenas duas ressalvas. Ter que esperar o fim do episódio diário de "A Fazenda" para assistir a minissérie significa horário tardio e incerto. "Plano Alto" merecia um espaço mais nobre na grade da Record – apesar da possibilidade de o reality entregar a minissérie com audiência razoável. E há de se prestar atenção na escalação de Carla Diaz para um papel importante na trama, a black bloc Lucrécia. O pouco que se viu da atriz nesta estreia destoou do resto. Tomara que seja apenas a primeira impressão.
No mais, "Plano Alto" promete ser uma excelente opção off-Globo. Temáticas políticas que exploram os bastidores do poder são raras na Teledramaturgia brasileira. E "Plano Alto" ainda carrega a grife Marcílio Moraes.
Leia também: Maurício Stycer "Plano Alto" faz reflexão política inteligente mas estreia na data errada.
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