"Nada Será Como Antes" perdeu a chance de reverenciar a memória de nossa TV
Uma produção requintada, com fotografia, cenários, figurinos e trilha sonora inquestionáveis. Elenco enxuto e bem dirigido, com excelentes atuações. A era do rádio e a primeira década da televisão no Brasil (anos 1950) como pano de fundo para dois núcleos de tramas que se alternavam: a relação do casal Saulo e Verônica (Murilo Benício e Débora Falabella), e o triângulo sensual Otaviano-Beatriz-Júlia (Daniel de Oliveira, Bruna Marquezine e Letícia Colin).
Tantas qualidades não conseguiram fazer de "Nada Será Como Antes" – a série da Globo que termina hoje (20/12) – um sucesso de repercussão ou audiência (média final de 18 pontos no Ibope da Grande SP, muito abaixo dos 26 de "Justiça"). A atração foi vendida como "série", para ser exibida uma vez por semana. Mas o que se viu foi uma narrativa que se perdia depois de sete dias. Funcionaria melhor se apresentada diariamente, como uma minissérie. Não creio que uma produção tão esmerada tenha meramente servido de "tapa-buraco"… mas a terça-feira era o único espaço disponível na grade desse ano? Proposital ou não, não há como negar o erro estratégico da Globo.
A trama evoluiu lentamente ao longo de seus dez primeiros episódios – sensação causada, talvez, pela exibição semanal – para explodir nos últimos, com desfechos interessantes envolvendo o núcleo de Beatriz (Bruna Marquezine), o melhor. Ótima em papeis dramáticos, Marquezine mostrou amadurecimento em uma personagem que lhe coube como uma luva. Já o casal Saulo e Verônica (Murilo Benício e Débora Falabella), não saiu do cansativo vai-e-volta, tira-e-concede a guarda do filho – apesar das ótimas atuações dos atores.
No mais, uma tímida homenagem à história de nossa televisão. "Nada Será Como Antes" não tinha a pretensão de ser documental ou refazer os passos dos pioneiros da TV. Mas com tanto aparato (perfeita reconstituição de cenários e parafernália de televisão), a atração limitou-se a narrar o modus operandi dos primórdios da TV e perdeu uma ótima oportunidade de ir além do "pano de fundo". Na verdade, a televisão brasileira pouco reverencia a sua memória. Ainda está por vir uma produção de TV que efetivamente conte sua história.
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