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Às vésperas das eleições, "Magnífica 70" estreia com polarização política

Nilson Xavier

05/10/2018 12h01

"Os Magníficos": Maria Luísa Mendonça, Marcos Winter, Simone Spoladore e Adriano Garib (Divulgação HBO)

Para quem desconhece ou ignora História, a série "Magnífica 70" pode parecer uma distopia. A trama sobre uma produtora de filmes eróticos, ambientada na Boca do Lixo paulistana na década de 1970 (auge da pornochanchada), revela a relação da indústria com a censura do Regime Militar e o lado mais perverso e repressor do governo brasileiro naquele momento. E é com um tom distópico que a terceira e última temporada se inicia, como observado na exibição do primeiro episódio em cabine para a imprensa, nessa semana.

O tom pesado da narrativa dá início aos novos desdobramentos dos protagonistas Vicente (Marcos Winter), Dora (Simone Spoladore), Manolo (Adriano Garib) e Isabel (Maria Luísa Mendonça). De um lado Vicente, insano, aliando-se aos militares com o projeto de um Novo Brasil – "A arte corrompe", justifica-se. Do outro, a não menos insana Isabel entra para a luta armada disposta a mudar o Brasil por meio da violência. Qualquer semelhança com a polarização política que vive o país nesse momento, às vésperas das eleições para presidente da República, terá sido mera coincidência. Ou não.

O censor Vicente / Marcos Winter (Divulgação HBO)

Questionei o diretor Cláudio Torres (também um dos criadores e roteiristas) sobre o quanto "Magnífica 70" estava sendo oportuna. Oportuna sim, mas não proposital. Em 2015, quando lançada a primeira temporada, o Brasil vivia um cenário completamente diferente. A ditadura do governo militar permanecia restrita aos livros de História e à lembrança de quem viveu o período.

Três anos depois, com o avanço de ideais militares da extrema direita e a tentativa de minimizar os horrores dos Anos de Chumbo, "Magnífica 70" pode soar, para alguns, como uma fantasia sombria sobre o passado recente do país. Distópica, se não fosse embasada na realidade. As referências ao Governo Geisel são explícitas. O plano dos militares de um atentado com bomba remetem ao que aconteceu no Riocentro em 1981. Tampouco a série deixa de apontar para o "outro lado", com o entrecho de Isabel na luta armada.

A política serve de pano de fundo e combustível para a trama de "Magnífica 70". De intencional, apenas a representação de que qualquer polarização pode ser perniciosa.

Simone Spoladore (Divulgação HBO)

Serviço
Produção original da HBO Latin America, a terceira e última temporada tem 10 episódios e estreia em 14 de outubro (domingo), às 21h, no canal HBO e na HBO GO. No dia seguinte, a série estreia no canal HBO Latino, nos Estados Unidos. "Magnífica 70" tem direção geral de Cláudio Torres, que também assina o roteiro ao lado de Renato Fagundes, com colaborações de Melanie Dimantas e Aline Portugal. Criada por Leandro Assis, Luiz Noronha, Renato Fagundes e Cláudio Torres, a série é uma coprodução HBO Latin America Originals e Conspiração Filmes.

A trama começa com os quatro "magníficos" separados, diante de um fato inesperado: a produtora Magnífica consumida pelas chamas. Dora (Simone Spoladore) acabou aprisionada por assassinos, enquanto Manolo (Adriano Garib) incendiou a Magnífica e Isabel (Maria Luísa Mendonça) entrou para a luta armada. Vicente (Marcos Winter), cada vez mais delirante, está decidido a controlar toda a produção cultural do país e criar seu próprio filme. Para isso, ele precisará reunir os "magníficos" e conseguir apoio financeiro e político. No decorrer da temporada, seus caminhos voltam a se cruzar, levando-os ao que os fez chegar até aqui: a paixão pelo cinema.

No elenco, além, dos quatro protagonistas, as participações de Paulo César Pereio, Cristina Lago, Gracindo Junior, Maria Zilda Bethlem, Vinicius de Oliveira, Charles Fricks, Leandro Firmino, Mariana Lima, Mário Gomes, Taumaturgo Ferreira, Roberto Pirilo e outros.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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