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Trama arrastada de "Espelho da Vida" começa a irritar o público

Nilson Xavier

15/10/2018 19h02

Vitória Strada (foto: reprodução)

Há um toque de fantasia na trama espírita de "Espelho da Vida" que promete cativar o público. Falo do espelho do casarão através do qual a protagonista Cris Valência (Vitória Strada) faz a viagem no tempo e revive sua encarnação anterior, Júlia Castelo. Vamos desconsiderar o fato de, às sete da noite, já termos uma novela sobre viagem no tempo ("O Tempo Não Para"), em outro contexto.

A trama do espelho está demorando para deslanchar. Entrando em sua quarta semana de exibição, "Espelho da Vida" se arrasta. Os personagens são apresentados aos poucos: nem todos ainda deram as caras e, dos que deram, nem todos se mostraram completamente. Contrariando muitas cartilhas, a autora Elizabeth Jhin parece não ter pressa em fisgar seu público. E, assim, segura o espelho mágico enquanto a mocinha protagonista anda em círculos.

Há uma semana, aconteceu a primeira viagem no tempo: Cris transpassou o espelho, indo parar em seu quarto na década de 1930, caracterizada como Júlia. Alguém bate à porta, é sua mãe, também em traje de época. Fim de capítulo com um gancho excelente. No dia seguinte, um banho de água fria: a sequência no passado terminou ali e Cris voltou à atualidade. E a trama, ao seu ritmo normal. Uma nova viagem pelo espelho só foi acontecer no sábado seguinte, uma cena rápida.

Vitória Strada (foto: Estevam Avellar/TV Globo)

A novela é bonita, bem dirigida, o texto é correto, a trilha sonora agrada, há humor e há tramas paralelas que parecem promissoras. Entretanto, o casal romântico central começa a irritar o público. Como, por enquanto, tudo gira em torno de três personagens, vamos analisá-los separadamente.
Margot (Irene Ravache) tem desempenhado o papel daquela tia querida que empurra doutrinação religiosa;
Cris entrou num círculo vicioso: se empolga com sua vida passada, desmaia, chora um bocadinho, visita o casarão, desiste de Júlia, desmaia, volta a se empolgar, volta ao casarão, desmaia, e assim sucessivamente;
e Alain (João Vicente de Castro) é apenas um cara arrogante e vaidoso travestido de romântico: já ganhou a antipatia do público.
A novela está há três semanas nisso.

Relembro os dois trabalhos anteriores de Elizabeth Jhin. Dos seis meses de duração de "Amor Eterno Amor" (2012), pelo menos quatro foram nesse ritmo, digamos, sonolento. Já "Além do Tempo" (2015) tinha uma narrativa mais ágil e condizente com as novelas modernas. Independentemente da trama dividida em duas épocas distintas e separadas, já na primeira fase a história conquistou um público cativo. Foi uma novela mais "redonda" (uma das que mais gosto, inclusive).

Até aqui, "Espelho da Vida" me remete a "Amor Eterno Amor". O público das novelas atuais clama por agilidade. Mas Jhin está cozinhando a sua trama em fogo brando. Isso é benéfico? É cedo para avaliar. Vai depender do quanto o público está disposto a ser cozinhado. Há muita concorrência lá fora. A audiência, todavia, está dentro do patamar dos 20 pontos de média (Ibope da Grande São Paulo) exigidos para o horário (pouca coisa abaixo da atração anterior, "Orgulho e Paixão").

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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