Atração de nicho, “Supermax” é um ótimo começo para o terror na televisão
As referências vão de "Lost" a "The Walking Dead" intercalando com outras séries e filmes de suspense e terror dos últimos quinze anos. "Supermax", a nova atração da Globo, que estreia hoje (20/09) na TV aberta, não apresenta nada de original. Pelo contário: vem recheada de todos os mais batidos clichês que fazem a festa dos fãs do gênero. E nem poderia ser diferente: terror, sustos, sangue, monstros, seres ou almas de outros mundos usados para potencializar o medo povoam o imaginário coletivo desde a mitologia greco-romana, passando pelas pinturas de Bosch e romances de aventura de Julio Verne.
Não é original para quem está acostumado ao gênero. Entretanto, a emissora aposta em algo pretensioso e inédito na TV brasileira: o terror vendido com o padrão da televisão americana. Zé do Caixão já havia usado a fórmula no cinema e na TV, mas tudo dentro de seu estilo e orçamento. A Globo aposta alto. Para isso, deu total liberdade de criação ao diretor artístico José Alvarenga Jr. e a uma equipe de roteiristas antenada, gente de cinema e literatura: Carolina Kotscho, roteirista de cinema, Raphael Draccon, autor da trilogia literária de fantasia "Dragões de Éter", Fernando Bonassi, do romance "Luxúria", Bráulio Mantovani, do filme "Cidade de Deus", e Denisson Ramalho, especialista em filmes de terror.
"Supermax", a princípio, parece um reality-show (com direito a participação de Pedro Bial na estreia). Logo no segundo episódio, os 12 confinados num presídio de segurança máxima no meio da Amazônia percebem que algo está errado. Abandonados à própria sorte, os personagens se digladiam pela sobrevivência enquanto fatos bizarros acontecem. A atração vai ao ar sempre após as 23 horas e não poupa o telespectador de tudo o que o horário permite: sexo, nudez frontal, palavrões nunca antes ouvidos na TV aberta, violência, mutilação e muito sangue. Mas nada é gratuito, tudo está no contexto do programa.
Até a metade (o quinto episódio) a narrativa é confusa. No afã de apresentar os personagens e a tensão crescente entre eles, o roteiro parece uma metralhadora desgovernada, atira para todo lado. Alguns diálogos são ruins e alguns atores parecem mal dirigidos. Um estranhamento que vai se diluindo com o avanço da trama, à medida que escolhemos quais personagens gostamos e quais odiamos (comum no público em séries com vários personagens e realities de competição). Fica a dúvida se a canastrice inicial é proposital – afinal de contas, participantes de realities de confinamento são canastrões no início, até as máscaras começarem a cair.
A ideia de iniciar a história a partir de um reality-show é boa – o reality serve à narrativa. Os personagens têm os vícios de quem conhece a dinâmica desses programas intensificados pelo fato de nenhum deles ser flor que se cheire: todos tem dívidas com a sociedade, são culpados de algum crime. Ou seja, a princípio, ali ninguém é amigo de ninguém. Todos desconfiam de todos e de tudo – inclusive – e principalmente – o telespectador. Não se sabe o que é real e o que é delírio e tudo pode acontecer. Assim como nada. O que é ruim, pois confunde e irrita o público.
Só a partir do sexto episódio – depois que conhecemos bem os participantes – a história ganha estofo e as peças começam a se encaixar. A tensão só aumenta e o programa melhora muito a cada episódio. A narrativa avança abusando de efeitos especiais, fantasia e pirotecnia, mas nunca fazendo cair o interesse pelo desfecho da história. Desfecho esse ainda desconhecido, já que a emissora disponibilizou no Globoplay (sua plataforma on demand) todos os episódios menos o final, que só vai ao ar em dezembro.
"Supermax" – definitivamente – é uma atração de nicho, não é para todos os gostos. Os fãs de séries americanas gostarão se deixarem de lado o preconceito por essa ser uma produção brazuca e entenderem que ela não se pretende original. Pelo contrário, merece endosso só pela ousadia da Globo em apostar nesse formato inédito. E é um excelente começo.
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