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Novela das 6 “Amor Eterno Amor” tem a pior média de audiência até o décimo capítulo

Nilson Xavier

18/03/2012 07h30

A novela das seis da Globo, Amor Eterno Amor – de Elizabeth Jhin, com direção de núcleo de Rogério Gomes -, teve a pior média de audiência já registrada para o horário até o décimo capítulo: pouco mais de 21 pontos, quando a meta é 25. Amor Eterno Amor começou lenta, apostando no romantismo e introspecção, tendo o espiritualismo como fio condutor. Em Escrito nas Estrelas, a trama anterior da autora, de 2010, viu-se um início bem mais movimentado. Apesar das belas imagens de Marajó em Amor Eterno Amor, paira no ar a impressão de "já vi essa novela antes".

Marajó maravilhoso

A sensação de déjà vu tem razão de ser. Escrito nas Estrelas também apresentou uma trama espiritualista, e também foi dirigida por Rogério Gomes. A estética, com temática rural, lembra Paraíso, novela de Benedito Ruy Barbosa, de 2009, outra trama sob a batuta de Gomes. Mas é impossível não lembrar-se também de Araguaia (de Wálter Negrão, de 2010-2011), América (de Glória Perez, de 2005) e Senhora do Destino (de Aguinaldo Silva, de 2004-2005).

As imagens são belíssimas, com fotografia de cinema – o que já é costumeiro no horário das seis. A novela é gravada em 24 quadros por segundo, quando normalmente se usa 30 quadros. E Amor Eterno Amor mostra um cenário inédito em novelas: paisagens deslumbrantes da Ilha de Marajó, um atrativo a mais do folhetim, e que ainda tem o mérito de divulgar a região. O clima romântico é envolvente, como se propõe a história. A trilha sonora, introspectiva e de bom gosto, ajuda.

Além do cenário, o universo do Marajó está presente nas danças com trajes típicos (saias rodadas e flor no cabelo) e no linguajar, com expressões como "Égua!", que causou certo estranhamento no início, mas já foi devidamente assimilado pelo público.

Atores e perucas

O elenco é de primeira, valorizado pela direção segura. Letícia Persiles vive uma heroína romântica que segue interessante. Gabriel Braga Nunes parece contido demais em cena, culpa de seu personagem que não dá margem a uma atuação mais desenvolta – pelo menos por enquanto. A personagem de Andreia Horta – lindíssima – é um furacão e dá a pimenta ao trio romântico central que já se desenha.

O casal vivido por Pedro Paulo Rangel e Vera Mancini já chamou a atenção. Ele, cuja caracterização lembra um Pereirinha (personagem de José Mayer em Fina Estampa, a trama das 9) caipira e covarde, tem os mesmos tiques de interpretação de tantos outros personagens que já viveu em novelas. Vera Mancini – que se destacou recentemente como a engraçada empregada Cleonice de Morde e Assopra (também dirigida por Rogério Gomes) – está à vontade na pele da mulher mandona e voluntariosa. E Vera só não é a atriz que mais chama atenção no elenco porque não usa uma peruca.

As perucas da novela merecem um parágrafo à parte. Cássia Kis Magro já usava uma peruca fake na novela Eterna Magia, que Elizabeth Jhin escreveu em 2007. Em Escrito nas Estrelas, Suzana Faini ostentou uma peruca grisalha, mas ainda discreta. Já a personagem de Walderez de Barros naquela novela era apaixonada por perucas: tinha várias em sua casa e cuidava delas com devoção. Em Amor Eterno Amor, as perucas de Ana Lúcia Torre e Cássia Kis Magro são propositalmente fakes e destoam tanto da história quanto da proposta estética da novela. Mesmo assim, as atrizes estão ótimas em seus papeis. Ainda que, às vezes, Cássia Kis pareça beirar o histrionismo. Deve ser impressão, por causa da peruca!

Espiritualismo e crianças índigo

Acho que se deve prestar um pouco mais de atenção na trama central da novela e na atriz mirim Klara Castanho. A menina Clara (sua personagem) tem poderes paranormais, lê os pensamentos das pessoas. Ou seja, é o tipo de personagem que pode tudo na trama de uma novela, para o bem ou para o mal. Criança índigo e criança prodígio ou super dotada, que não tem papas na língua e fala como um adulto, pode soar chata ou arrogante.

O espiritualismo é o que move a trama de Amor Eterno Amor. Diferente de outras novelas que já exploraram esse filão – como Escrito nas Estrelas e a espírita A Viagem, de Ivani Ribeiro -, dessa vez a temática vem explícita e soa impositiva. O personagem de Felipe Camargo é um homem cético e, por isso, na trama da novela, precisa ser "doutrinado" pelas filhas espiritualistas. Afinal, para embarcar nessa viagem a Marajó em busca da criança perdida, é preciso crer no que prega a história.

Aí, fica realmente difícil para quem é cético embarcar nessa viagem. Ou melhor, nessa história. A novela corre o risco de afugentar quem tem outras crenças, ou quem não acredita na doutrina apresentada pela autora. Talvez o efeito seria outro se a parte espiritualista de Amor Eterno Amor não fosse tão explícita nesse primeiro momento. Ou se ficasse em segundo plano. Mas aí não teria novela, já que a trama central depende da trama espiritualista para acontecer.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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