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Apesar de alguns deslizes, “A Terra Prometida” é um folhetim épico bem amarrado

Nilson Xavier

02/01/2017 07h00

Raymundo de Souza e Luciana Braga (Foto: reprodução)

Raymundo de Souza e Luciana Braga (Foto: reprodução)

Assim que foi lançada, em julho de 2016, a novela bíblica da Record "A Terra Prometida" chamou a atenção pela clara referência à série "Game of Thrones", da HBO. A princípio, na figura da personagem de Juliana Silveira, a Rainha Kalesi (a "senhora das serpentes"), cópia da Khaleesi (a "mãe dos dragões") da série norte-americana (vivida pela atriz Emilia Clarke).

Kalesi já saiu de cena na novela. Restou outra semelhança com "Game of Thrones". Na trama da Record, os hebreus estão divididos em doze tribos, como no jogo de tronos da equivalente estrangeira (sete reinos, no caso). E as semelhanças com "GoT" terminam aqui. O protagonista de "A Terra Prometida", Josué (Sidney Sampaio), comanda as doze tribos de Israel na conquista de Canaã, a terra prometida pelo Senhor ao povo hebreu.

O autor, Renato Modesto, criou toda a estrutura de sua novela em cima dessas tribos. Pelo menos sete delas funcionam como núcleos: têm personagens e tramas próprias a rechear a obra como um todo. É aí que Modesto transforma com eficiência uma história bíblica num folhetim interessante, onde prevalece… o folhetim!

"A Terra Prometida" é, por excelência, uma novela, com todos os ingredientes do gênero: vilões, intrigas, amores impossíveis, segredos, mistérios, etc. Tem até um núcleo infantil: os Lagartos Gosmentos. Não que a anterior não fosse também folhetinesca. "Os Dez Mandamentos" tinha a seu favor o apelo de uma história universalmente conhecida com acontecimentos fantásticos (as pragas do Egito, a travessia do Mar Vermelho) ansiados por todos. Mas um bom diferencial entre elas é que na atual há menos pregação religiosa, sobrando mais espaço para o folhetim.

Paulo César Grande, Miguel Costa e Priscila Urba (Foto: reprodução)

Paulo César Grande, Miguel Costa e Priscila Urba (Foto: reprodução)

Ainda que o melodrama escorregue aqui e ali. Na semana passada, a novela exibiu dois extremos. 1. A excelente a sequência em que Yana (Luciana Braga) confessa a Quemuel (Raymundo de Souza) que Aruna (Thaís Melchior) é filha dele, numa cena longa, dramática, em que o texto, a direção e os atores estiveram perfeitos. 2. Outra sequência de forte apelo dramático: Haniel (Paulo César Grande) revela à atual mulher Tirda (Priscila Urba) que deixou sua primeira esposa morrer para salvar o filho, Gael (Miguel Costa). Pai e filho acabam abraçados, se reconciliando. As falas dos três atores resvalou no jogral mal dirigido.

Apesar de um ou outro deslize, a trama de "A Terra Prometida" é bem alinhavada e prende. Também a produção e a direção (agora a cargo da Casablanca) são superiores quando comparadas com as obras bíblicas anteriores da emissora. O contexto épico, as tribos e os reinos pagãos conferem à novela esse clima fantástico que encontramos também em "GoT". Lógico, guardadas as devidas proporções entre uma produção criada aqui, para ser uma novela diária, com uma série estrangeira, semanal, com mais recursos (entende-se dinheiro).

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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